terça-feira, 18 de junho de 2013

DOS CARAS PINTADAS AOS “SEM-PASSAGEM”: COINCIDÊNCIAS


A questão mais efervescente desta semana no Brasil, sem dúvida, é a grande manifestação popular que tomou conta das ruas nas capitais e principais cidades país afora. O povo ganhou as ruas para protestar, exercendo um direito garantido na nossa Constituição (art. 5º, inciso XVI: todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;).   
Os protestos iniciaram com o objetivo inicial de pedir a diminuição do valor das passagens de ônibus na grande São Paulo, bem como uma melhor qualidade do serviço, como maior quantidade de ônibus e veículos mais novos. Daí o movimento cresceu e virou uma verdadeira cruzada contra todas as mazelas que infernizam a sociedade brasileira: inflação, corrupção, saúde e educação públicas precárias, má qualidade dos demais serviços públicos, baixa qualidade de vida, etc.
Nas redes sociais, as opiniões se dividem. Podemos constatar duas “correntes”: os que chamam o movimento de baderneiros, libertários e anárquicos, pessoas sem objetivo claro; e a outra, que diz que se trata de um verdadeiro direito democrático garantido ao povo, de ganhar as ruas e protestar.
Quem está com a razão afinal?
Não pensem que o motivo real são os vinte centavos do último aumento das passagens. Não é. A questão é bem mais profunda e reflete um turbilhão de sentimentos do povo brasileiro, que estão sendo extravasados nas ruas. Engana-se, também, quem pensa que o vilão é a Copa do Mundo e os seus estádios superfaturados. Não é só isso.
O movimento é muito parecido com a das “diretas- já” na década de 80, e mais ainda com o dos “caras-pintadas” que ocorreu no início da década de 90. Neste último, o movimento popular também começou pleiteando o “Passe Livre” aos estudantes de forma apartidária e contra a corrupção; o movimento clamava também pela ética na política. Coincidência ou não, o levante ganhou força após as denúncias de corrupção feitas pelo então irmão do Presidente Fernando Collor, Pedro Collor, e contra o seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias. A partir daí o principal foco foi a queda do Presidente, que acabou por renunciar ao mandato. Mesmo com a renúncia, o impeachment foi levado a cabo pelo Congresso Nacional, cassando os direitos políticos do Presidente Fernando Collor de Mello.
Muitos anos se passaram e a política brasileira parecer não ter mudado muito: os escândalos de corrupção grassam em todas as esferas do poder político, apareceu dinheiro em cuecas, compraram parlamentares, os serviços públicos não funcionam como deveriam, a educação e a saúde não tiveram avanços significativos, os impostos cada vez mais esvaziam os bolsos da população e o fantasma da inflação está novamente assombrando o brasileiro.    
O traço mais marcante e mais bonito desse movimento é justamente o seu apartidarismo, a sua explosão natural como um tsunami ou um vulcão em erupção. O depoimento do chefe da Polícia Legislativa, em entrevista a uma emissora durante a invasão ocorrida ontem (17/06), onde os manifestantes subiram na marquise do Congresso, deixou bem clara essa constatação: “faz duas horas que estamos aqui procurando negociar com os líderes do movimento e não os encontro”. E nem irá encontrar, porque não há bandeiras partidárias comandando o movimento. Políticos não são bem vindos entre os manifestantes, pelo menos aqueles que querem explorar ou tirar proveito do movimento.
A verdade é que alguns caciques políticos estão fazendo "beicinho" ou com "ciúmes" e, talvez por isso, tentam desqualificar esse fenômeno social. Outros caciques, por sua vez, estão com medo, muito medo, já que as pedras estão voando sobre os telhados de vidro.     
Alguns chegaram a dizer que o movimento é “fraco” porque não tem “foco” ou não teria um objetivo muito claro. Enganam-se. A revolta tem foco e tem causa sim, múltiplas, nas várias feridas abertas pelas mazelas sociais, como dito linhas atrás. A diferença é que, agora, não se quer derrubar o Chefe do Poder Executivo de plantão; pelo menos por enquanto. Como estão dizendo os manifestantes: “o gigante acordou”. Agora, falta a classe política abrir os  olhos. Durmam com esse barulho!

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